ARCÁDIA...
Região ao sul da Grécia no centro do Peloponeso cercada de montanhas Arcádia era uma terra de pastores. A região recebeu este nome em honra do deus Arcas, filho do Grande Zeus com a bela e famosa Ninfa Calisto. Mas como que Arcádia ganhou a aura de terra mítica e sagrada como Jerusalém e outras perdidas nas brumas do tempo como Thule, Atlantis, Lemúria e Mú? Todas remetem ao mito ancestral do Éden! O mito do Éden ou Gan-Éden(hebraico) ou Edinnu em acádio(palavra aliás muito semelhante a Arcádia) e Edin sumério. A se crer em afirmações de diversos estudiosos do fantástico os sumérios falam em seus mitos, quando mencionam esta terra paradisíaca, de acontecimentos que teriam se passado em torno de 432 mil anos AC... envolvendo a vinda dos deuses criadores e civilizadores sumérios, portanto muito antes destas 3 grandes civilizações hipotéticas terem surgido na terra. Talvez o Edin esteja tão lá atrás que até os míticos hiperbóreos viriam após ele! Seja como for, de uma idade paradisíaca assessorada pelos deuses os humanos caíram para eras cada vez mais distantes do ideal e hoje estamos a ver o que estamos a ver...
No mito grego Arcádia era a terra do deus Pã, o deus pastoril por excelência...Pã a hipóstase pastoril e selvagem do Grande Pan o Supremo...a imagem invisível por trás de todas as coisas...dai advém o conceito de panteísmo...o conceito de que todas as coisas são Deus...e mais rebuscadamente e filosoficamente de que Deus esta em todas as coisas! Parece a mesma coisa mas há uma diferença sutil e essencial...a primeira literalmente significa que tudo é Deus...Deus e a criação material e espiritual são uma mesma coisa...a segunda define a criação como um receptáculo da energia divina, da consciência divina, da essência divina. Deus não seria explicitamente esta, mas esta seria seu corpo, seu templo.
O fato é que na época do Renascimento(e no Romantismo) diversos filósofos e artistas começaram a apresentar aquela região da Grécia em cores poderosas de um mito perene...de uma terra paradisíaca...assim como o mito judaico-cristão apresenta a Jerusalém terrestre como analogia para uma Jerusalém paradisíaca, gloriosa e celeste o mesmo foi feito de Arcádia pelos cultores dos mitos clássicos. Arcádia seria um reino glorioso, de vastas matas...habitada por pastores, donzelas, ninfas e afins...uma terra verdejante, florida, de fontes, lagos, rios, bosques onde as pessoas viveriam vidas felizes, unificadas com a natureza em um clima perene e primaveril. Deuses, deusas, seres sobrenaturais manteriam contato pleno com estas pessoas e a vida ideal encontraria aqui lugar. Arcádia portanto evoca a idade do ouro, a utopia perfeita dos deuses com os humanos em perene ligação.
Vários foram os artistas que enfocaram Arcádia em seus trabalhos mas sem sombra de dúvida nos últimos 50 anos o nome mais celebrado tem sido o de Nicolas Poussin e sua famosa obra... Os pastores de Arcádia...com as teorias conspirativas em torno do Priorado do Sião, Rennes-Le-Château, O Santo Graal e cia a obra de Poussin ganhou significado de chave secreta e esotérica para descobrir-se diversos segredos e mistérios milenares relacionados com os merovíngios, os visigodos, a suposta linhagem de Jesus(ou Tiago) e Madalena, os celtas e afins.
A busca pela utopia perdida esta na alma, no cerne dos humanos. Entretanto o que realmente é o Paraíso? Será que o Paraíso é uma mesma coisa para todo mundo? Será o Paraíso o mesmo para um amante da música clássica e um amante do funk? O que de fato é um Paraíso?
Apesar de pensarmos que o conceito de Paraíso possa ser lato, contudo vemos no mito de Arcádia que alguns designativos são correntes em praticamente todos os mitos que definem de fato o que é um Paraíso e QUEM NÃO SE COADUNA COM ELE ESTARÁ FORA DELE!
1. Comunhão total entre humano e o meio ambiente.
2. Equilíbrio total entre qualquer criação humana e este meio ambiente.
3. Relações humanas que se primariam pelo respeito, paz e amor.
4. Humanos e outros seres vivos vivendo em sintonia.
5. Imortalidade ou no mínimo longevidade de todas as formas de vida.
6. Clima ameno, eterna primavera ou estações equilibradas onde as variações não seriam rigorosas.
7. Ausência total de catástrofes ou cataclismos de qualquer tipo.
8. Um equilíbrio perfeito entre, espaço, tempo e pessoas...ou seja; uma população, quer estática ou mutável, contudo em perfeita simetria com tempo e espaço...não haveria superpopulação por exemplo, e caso a vida fosse muito longa(se eterna fosse então um ambiente estático seria mais salutar) teria controle para haver equilíbrio entre quem chega e quem sai, para que o limite nunca fosse excedido.
9. Relação com seres de outros reinos do Ser...inclusive com o que definimos como Deus.
10. Um conceito que deve se tornar UNIVERSAL abarcando toda a Terra e todos os habitantes que nela estiverem e não somente um lugar, grupo e civilização.
Basicamente é o que encontramos em TODOS os mitos de Paraíso de qualquer mitologia com uma ou outra variação com os eternos combates e banquetes entre os guerreiros de Asgard por exemplo, mas lembrando que aqui falamos de um Paraíso pós morte e não terrestre como entendemos, Arcádia e a futura Jerusalém terrestre em sintonia com a celeste será. Estes 10 itens evocam um conceito paradisíaco terrestre em sintonia com o celeste e não puramente celeste...primeiro manifesto a partir de cada ser humano em sintonia com o divino em Si e depois pelo contato destes com seres evoluídos de outros mundos e dimensões, e todos vibrando com Deus em tudo e em todos, inclusive nos seres vivos ditos inferiores.
Quando os demais europeus chegaram àquela região da Grécia entre os séculos XVII e XIX descobriram que apesar de realmente bela e pastoril, a região em nada diferia das terras europeias em geral. Tinha climas severos as vezes, tinha dificuldades, enfim...era linda mas...não um Paraíso. Entretanto ela passou então a habitar o terreno do mito e da utopia. Da busca por um ideal de vida natural, em comunhão plena com a natureza. Que não existisse de fato uma Arcádia assim era um fato, então que dignifiquemos na esperança, na busca, no empenho o surgir de algo similar, e que chamamos Arcádia, poderoso nome, este passou a ser o mote dos cultores deste graal tão evocativo.
Em um mundo como o nosso, diante de tanta imundície e podridão...diante de tanto sofrimento e de tanto dor, mitos como Arcádia, Nova Jerusalém, Thule surgem como fiapos de esperança, fios que se estendem à fé de que não estamos sozinhos...que existem seres que nos bastidores nos ajudam, que apesar da oposição de alguns que querem nosso mau pelo mal há outros que querem o nosso bem pelo bem, e que em tudo que estamos vivenciando esta Deus, presente e vivo dentro de cada um de nós e que em suma, em ultima instância, esta busca pelo Paraíso é o selo perene que Ele nos concedeu, dentro de nós, quando por nossas escolhas erradas nos fechamos a sua Voz...
Pax et Lux
Valter Luís
Obra, Hilas e as Ninfas de Arcádia de John Willian Waterhouse
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