O MENINO QUE DESCOBRIU O VENTO - GRÃ-BRETANHA - 2019 - NETFLIX-
Nota 10 + 
“DEUS É COMO O VENTO QUE TUDO TOCA”
Esta frase final do filme sintetiza toda a experiência deste filme! Como o divino no velho testamento judaico/cristão e extensivamente islâmico ou no bhagavad gita hindu, Deus é uma experiência extática e dinâmica tanto prazerosa quanto dolorosa neste mundo tridimensional em que vivemos imersos! A espiritualidade cor de rosa não tem lugar na experiência real dos humanos aqui encarnados! Deus é uma realidade experiencial nua e crua! Na alma e na pele! Ficamos assim abismados de onde este “povo cor de rosa” tirou suas teorias sobre a vida espiritual! Tentando estar “acima” do vulgo, da massa, em sua espiritualidade cor de rosa repleta de nuvens branquinhas perderam contudo algo essencial na verdadeira espiritualidade... a empatia com o outro... principalmente com a DOR do outro... dai as frases rotas insensíveis, vazias de empatia e amor que vemos este povo arrotar aqui nas redes sociais neste pandemónio. Parecem cheias de luz e coisas boas, supostamente evolutivas mas não passam de discursos vazios! O filme não versa especificamente sobre espiritualidade... aliás... as duas vezes explicitas em que ela aparece é no contexto da Morte. No início do filme um enterro cristão... no fim a preparação de um corpo para o enterro islâmico. O cenário é a África! Todos os continentes tem histórias de maldade indizível e miséria inominável mas a impressão que temos é que isto parece intrínseco ao continente africano! No entanto, em meio a tanta penúria há uma dignidade em cada personagem! Uma grandeza de alma que filmes sobre povos não tão sofridos não conseguem sequer arranhar!
O ator/astro britânico Chiwetel Ejiofor dirige e estrela esta produção que conta a vida de um adolescente africano (Maxwell Simba) que mesmo frente a vida sofrida com a família na África sonha com um futuro melhor! E diante de toda a problemática climática, territorial e política em que vive inserido tem a brilhante ideia de criar um mecanismo com sua bicicleta para irrigar as terras de seu pai. Só que entre sonho e ideia e depois de ideia para realização há o contexto opressor em que vive e a dificuldade de compreensão paterna! Pouco a pouco contudo os sonhos de William(este é seu nome) vão tomando forma!
É um filme profundamente espiritual sem muito falar ou mostrar de religiosidade! Entretanto percebemos que nas duas cenas de morte do filme... além das cerimônias das religiões oficiais dos mortos aparece um grupo de saltimbancos de estrada! Uma espécie de “homens sagrados” que vão como que para receber a alma do morto! Ou seja, apesar da religião oficial o culto aos ancestrais (e é isto que o grupo caracteriza) é uma realidade intrínseca à alma do africano! Um culto da terra! Do chão! Da chuva! Da vegetação! Da água! Do fogo! E do Vento! O vento, dos elementos é o grande símbolo de Deus no filme! O vento favorável e desfavorável! O vento úmido ou seco! O vento refrigerante ou abrasador! O vento que propicia vida ou gera destruição! O garoto que descobriu o vento é uma metáfora para a descoberta de Deus! Sua mecânica, sua manifestação no mundo tridimensional! E aprender com o vento e criar formas de, ouvindo sua voz, entender sua linguagem e adaptar as coisas ao redor para se beneficiar deste contato é a grande mensagem do filme! Um filme baseado em fatos reais que no final apresenta o real protagonista e os seus. Uma obra nada fácil de se assistir se o que se quer fazer é passar o tempo. Mas se a pessoa quer ver um filme visceral em destrinchar a dor da existência humana e a glória da sublimação e subversão desta dor em puro êxtase de realização então tu encontraste o filme certo para assistir neste pandemónio! Vale muito ser visto e refletido... assimilado.
Pax e Lux
Valter Luís (Taliesin)
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