- DUNA/DUNE: Parte 01 - EUA - 2021 - HBO MAX ou quem sabe… ainda em um cinema perto de ti - Nota 9.5 🌟🌟🌟🌟 -
Denis Villeneuve tenta fazer aqui o que nem um dos maiores mestres geniais da história do cinema… David Lynch, conseguiu fazer com a primeira adaptação desta obra (talvez a maior - para mim e muitos seguramente a melhor - obra sci fi já escrita… grande sucesso… clássica e verdadeira obra prima) em 1984. Algo gigante! Grande! Épico! Primo! Ou pelo menos uma excelente adaptação! A versão de Lynch foi execrada pela crítica, rejeitada pelos fãs da obra escrita de Frank Herbert, e por fim foi um fracasso frente ao grande público e premiações em geral naquele tempo. Foi uma verdadeira catástrofe! Entretanto quase 40 anos depois ganhou status de cult, faz sucesso nos streaming e TV e tem até fãs ardorosos (ainda que o próprio Lynch renegue o filme alegando que sua obra foi mutilada na edição)! Vai se entender! Eu era um que então esperava algo memorável das mãos de Lynch e me decepcionei! Parecia que Duna era simplesmente impossível de se adaptar!
Depois no ano 2000 a obra foi adaptada para a TV e fez sucesso…muitos consideraram melhor que o filme de Lynch! Além do livro original a série adaptou os dois seguintes também: O Messias de Duna e Filhos de Duna! Eu gostei!
Agora, 20 anos depois Villeneuve chega com a terceira adaptação que promete ser a mais fiel adaptação da obra escrita e quer se celebrizar e eternizar tanto quanto ela!
Bom! Olhando a primeira parte (o livro um foi repartido em dois filmes) lançada este ano digo: concernente a primeira ambição não foi tão fiel assim… mas nada que comprometa narrativa e condução(se bem que alguns críticos acharam o ponto em que corta o filme para a futura parte 02 muito abrupto) … Villeneuve já tem demonstrado em trabalhos anteriores ser não só um excelente diretor quanto um narrador profundamente reflexivo com um tempo de condução que leva o espectador das duas uma: ou viajar na onda ou se enfastiar! Indiferente ninguém fica! Obviamente pessoas que só gostam do ritmo de obras sci fi estilo Predador ou Exterminador do Futuro dificilmente vão gostar… quem só gosta mais de coisas estilo Star Wars ou Contatos Imediatos de Terceiro Grau pode até gostar mas será os que gostam mais de obras como Star Trek e O Dia em que a Terra Parou(original) que a meu ver vão se lambuzar com o filme. Já os que só gostam de filmes tipo 2001 Uma Odisseia no Espaço ou Solaris (original) será uma incógnita: podem até gostar mas há uma probabilidade de torcerem o nariz pelos motivos opostos dos fãs de Predador; porque talvez entendam não ser reflexivo e contemplativo o suficiente.
Eu gostei! Mas achei que poderia ser melhor! Por incrível que pareça, com todas as críticas Lynch aproveitou melhor os personagens de Herbert; no mesmo tanto de horas de metragem do filme de Villeneuve conseguiu inserir o primeiro livro todo (se nem tanto na reflexão e ode filosófica do livro …os personagens e pontos centrais da saga) e aquilo que então parecia menos hoje ao ver o filme atual até que soou louvável( se bem que ele alega que sua edição seria um pouco mais extensa do que a que foi feita)! Entretanto Villeneuve ao privilegiar basicamente o protagonista e sua mãe(coisas que Lynch também faz mas distribui melhor o elenco de apoio em torno) e tempos poderosos de ligação entre os pontos chaves da trama com atuações pontuadas por menos ação e maior interação reflexiva e contemplativa consegue fazer a epopeia que Lynch talvez quisesse ou sonhasse fazer e não fez! As cenas são espetaculares… as cores (ou ausência de… muitas vezes em contraste mais uma vez com o filme coloridíssimo de Lynch) … os movimentos… os tempos… os cenários deslumbrantes… os figurinos… a tecnologia soberba… a trilha sonora mágica de Hans Zimmer e claro, um senhor elenco onde a melhor coisa foi o show de Stellan Skarsgärd como um sinistro e soturno Barão Vladimir Harkonnen(não só sua interpretação mas a caracterização impressa por Villeneuve ao personagem)… muito melhor que suas versões anteriores! Timothée Chalamet esta bem como o protagonista Paul Atreidres mas esta longe da nobreza e elegância cênica de Kyle McLachlam do filme de 1984 e se não perde também não ganha de Alec Newman o Paul da série de 2000! Rebecca Ferguson me conquistou…é a melhor versão de Lady Jessica a mãe de Paul. Oscar Isaac faz um digno Duque Leto pai de Paul; supera por pouco Jünger Prochnov do filme mas prefiro William Hurt na série. A tétrica Madre Gaius Helen Mohian encontrou sua melhor versão na pele e no talento da grande Charlotte Rampling desta versão além de ser um nome infinitamente mais poderoso do que as atrizes das outras versões… Duncan Idaho de Jason Momoa é mais carismático que suas versões anteriores(Richard Jordan 1984 e Edward Atterton 2000) além de estar anos luz no quesito “poder de bilheteria” e o Gurney Halleck de Josh Brolin não é melhor nem pior que os anteriores mas tão bom quanto, mas eu gostei um tantinho mais de Patrick Stewart de 1984 do que dele e do que de P. H. Moriaty de 2000). Dave Bautista esta assustador como Rabban e muito melhor que suas versões anteriores. Javier Bardem como Stilgar e Zendaya como Chani pouco apareceram (Chani nas mirações de Paul e abrindo narrativamente o filme …) para se tecer juízo nesta primeira parte mas pelos 15 minutos finais do filme e de atuação efetiva dos dois da para se perceber que ele fatalmente será o melhor dos Stilgar e ela tem tudo para superar suas antecessoras (eu gosto muito da Sean Young no primeiro em 1984 e acho Bárbara Kodetová de 2000 boa atriz) e a mudança de gênero do personagem de Liet-Kynes não é nem boa e nem ruim mas simplesmente desnecessária e só foi feita para se cumprir agenda de inclusão… contudo poderiam ter colocado alguém do porte de Regina King, Octávia Spencer, Alfre Woodward ou Viola Davis para se fazer isto. Ou então poderiam ter substituído o gigante Max Von Sydow do primeiro filme pelo gigante Denzel Washington que se cumpriria à contendo a agenda sem necessidade nenhuma de mexer no gênero do personagem. Mas a atriz é boa atriz apesar de não ser nenhuma Viola, e claro; nem em sonho ameaça a meu ver a caracterização e interpretação de Von Sydow. Chang Chen é fisicamente a melhor caracterização do doutor Yueh mas aparece menos que seus colegas anteriores das outras adaptações e pouco consegue fazer de concreto; assim, a versão original do saudoso Dean Stockwell continua a melhor. Tufir Hawat tem um bom intérprete, à altura dos antecessores(como ele nenhum estelar ou muito conhecido)mas apareceu muito pouco assim como Yueh. Nesta parte um nada ainda de personagens importantes no primeiro livro como a princesa Irulan(narradora da história original), o imperador Shaddan Corrino e do psicopata e antítese de Paul …Feyd-Rautha … Sting ainda é o mais lembrado intérprete do último ainda que a meu ver caricato na primeira versão e dois nomes lendários do cinema por enquanto dividem as honras de fazerem dois imperadores dignos: José Ferrer em 1984 e Giancarlo Giannini em 2000. Curioso para ver estes dois personagens na segunda parte assim como claro, Alia a irmã precoce de Paul e a interprete da Reverenda Madre dos Fremen que terá a missão de simplesmente tentar desbancar a mítica Silvana Mangano da versão de 1984. Há contudo outras duas falhas sentidas maiores: … não aparece nenhuma citação ou muito menos a presença dos navegadores anfíbios das naves do império e a especiaria é citada que me lembre uma ou duas vezes brevemente sendo que ela é o verdadeiro motivo de Arrakis/Duna existir como centralidade do império e ser o fio condutor de toda trama pois além do contexto sócio e econômico há o religioso e espiritual que tem a ver e muito com ela…a obra original é praticamente psicodélica neste sentido. Fora a água …um elemento vital também na trama… principalmente para os fremen…neste sentido as duas adaptações anteriores foram mais felizes.
Ou seja; vendo esta nova adaptação e gostando do que Villeneuve fez eu me vi também gostando ainda mais de coisas das outras adaptações… principalmente na caracterização dos personagens, interpretação e tempo em cena dos personagens secundários mais o que falei dos navegadores, água e especiaria(os vermes contudo tem bom destaque).
Gostaria MUITO de dar uma nota máxima para uma adaptação de Duna mas ainda não foi desta vez mas… chegou bem perto! E assim acho que Villeneuve cumpriu a missão de fazer a melhor versão até aqui da obra de Herbert. Mas também me vi reavaliando melhor as versões anteriores. O original que em 1984 dei só 5 hoje daria 8 e a série de 2000 que dei 8 hoje daria 8.5! Enfim… Duna 2021 merece sim ser visto e Villeneuve é já um dos melhores diretores da atualidade com grande chance de vir a ser reconhecido como um verdadeiro grande mestre do cinema! Ah! O filme fez uma carreira de sucesso nos cinemas arrecadando quase 400 milhões de dólares no mundo até agora… e estreou simultaneamente no streaming da HBO nos USA onde também foi MUITO bem. E mesmo assim fez em torno 100 milhões nos cinemas de lá e continua lucrando em torno de uns 4 milhões por semana! Ou seja… com certeza vem a parte dois por aí…
Pax et Lux
Valter Luis (Taliesin)
Nenhum comentário:
Postar um comentário