- Sessão: Nunca deixe de ver um clássico - Filmes Essenciais - LARANJA MECÂNICA/A CLOCKWORK ORANGE - EUA/GRÃ-BRETANHA - 1971 - Direção de Stanley Kubrick baseado na obra de Anthony Burgess - Obra prima clássica nota 10+ 🌟🌟🌟🌟🌟 - presente na HBO MAX -
Hoje, 12 de Novembro de 2021… Laranja Mecânica… este filme seminal de Kubrick completa 50 anos e mais do que nunca incensado como um dos 100 maiores filmes já feitos!
Foi um daqueles filmes extremamente controversos em temática e cenas que ficou proibido por anos em diversos países (inclusive no Brasil) … em muitos que exibido foi teve cenas censuradas e em outros que passou integral(mas com classificação de idade máxima) depois teve outras edições mais palatáveis. Parece até que Kubrick a certo ponto renegou de alguma forma sua obra; provavelmente desgostoso porque muitos disseram que incentivava a violência enquanto a opinião dele era exatamente o oposto; que ela a retratava…que a sociedade já estava naquele caminho doentio e tétrico à anos, e que ficaria muito pior (algo terrivelmente “profético” eu diria ao meditar nos últimos 15 anos que estamos a viver de delinquência juvenil cada vez mais sintomática) pelo menos por anos a mesma não foi exibida no Reino Unido, onde ele havia constituído residência nos anos 60, enquanto estava vivo, mesmo em VHS e DVD, só vindo a ser em 1999 … alguns meses após sua morte… 27 anos após sua última exibição.
Não posso culpar Kubrick… nem por fazer este filme visceral e verdadeiro marco do cinema como por reagir da forma como reagiu concernente sua reexibição no Reino Unido. Kubrick era um diretor… um criador mestre e genial a meu ver, e da grande maioria dos críticos e cinéfilos; um dos top ten, que raramente fazia concessões seja ao establishment, seja à críticos. Desde Lolita pelo menos , em 1962, seus filmes não são só grande cinema espetáculo ou narrativo mas profundamente revolucionários, questionadores, filosóficos ou controversos. A obsessão de um homem muito mais velho( mas em idade sexual ainda ativa)por uma ninfeta baseada numa das mais controversas obras literárias de todos os tempos (Lolita de Nabokov), uma comédia de humor trevoso onde o item principal é uma guerra atômica em Doutor Fantástico de 1964, depois aquele que para a maioria é não só seu pico mais alto mas é geralmente listada como uma das 10 maiores obras já feitas no cinema… 2001 Uma Odisseia no Espaço, onde o contexto do Criador da Vida Inteligente Universal encontra uma poderosa visão científica sem desprezar uma grande dose de elementos líricos e até transcendentes em 1968 e enfim Laranja Mecânica em 1971! Mas não parou por ai… Barry Lyndon em 1975(um interessante estudo sobre contexto social e ascensão social na pele de um alpinista social em meio a nobreza europeia da época do Iluminismo), O Iluminado 1980(que mostra o que um ambiente limitado ainda que belo, cercado por um outro ambiente hostil fora, aliado aqui e ali com alguns elementos estranhos podem fazer na psique de um homem aparentemente saudável… pensou quarentena? Pois é…), Nascido para Matar 1987(uma análise profunda do elemento violento na cultura do homem que leva os questionamentos levantados em outra obra máxima dele sobre a guerra…Glória feita de Sangue…de 1957 a outro patamar psicológico) e principalmente seu último filme e legado… De Olhos Bem Fechados de 1999 (uma certa “elite global complicada e dita ‘trevosa’ “ mais que qualquer outra coisa é a protagonista deste filme) atingem o espectador forte quer no fígado, quer no coração, quer na consciência, quer na sensação, quer na alma! Não são definitivamente filmes fáceis e TODOS se tornaram com o tempo além de enormes sucessos referência de altíssimo cinema e filmes com elementos profundamente perturbadores mas com uma carga de transformação pessoal e social muito fortes!
Revi neste dia 12 pela terceira vez Laranja Mecânica e o psicopata Alex e seus druguinhos(amigos ou parceiros) continua absolutamente firme e contundente como um dos trabalhos mais assustadores mas fidedignos em retratar não só o ocaso de nossa civilização quanto a nos desesperançar de qualquer outra época da história humana! É talvez o filme distópico social por excelência ou pelo menos o primeiro mais clamoroso mostrando um futuro imediato à obra onde a delinquência juvenil atingiu parâmetros de total descontrole que ameaça a própria sobrevivência humana enquanto elemento social! A violência não só física mas principalmente sexual é endêmica nestas gangues de jovens mas o único elemento não presente da nossa realidade são as drogas(a gangue toma… leite, mas este de uma maneira completamente sexualizada)! O filme se passa em Londres mas poderia ser em qualquer outra grande metrópole tal o grau de apuro em que capta a dissolução social global daqueles tempos (ainda um tanto quanto insipiente ainda que crescente) mas principalmente de um futuro hipotético agora muito real!
Interessante como as obras de Kubrick privilegiam obras clássicas como trilha sonora… aqui contudo vai além e insere a mesma como elemento vital não só da condução cênica e narrativa mas como elemento da trama! Ludwig Van Beethoven… mais precisamente a nona sinfonia deste é junto com a transgressão, violência e sexo a obsessão maior de Alex mas não só ele e ela! Esta(e) é o elemento mais escrachado desta distopia psíquica onde uma obra sublime(a de Beethoven ) habita uma mente e coração torpe mas tem outra mais sutil, que embala os ritos de violência deste… principalmente o sexual; uma música que nos transporta ao gênero mais encantador e dito “do bem” do cinema… a comédia/musical nos eternos e clássicos acordes da canção principal daquele que, se não é o maior é um dos 3 maiores clássicos e obras primas do gênero musical: Cantando na Chuva ou Singin’ in the Rain… cantado numa cena de violência sexual coletiva por Alex e depois em outro momento do filme o qual desencadeia a ira de uma de suas vítimas. No fim, a própria versão com Gene Kelly é tocada e cantada! Tem o filme contudo uma trilha sonora particular composta por Wendy Carlos mas a mesma se perde diante do emblemático e da grandeza de Beethoven e Singin’ in the Rain; não só como obras magistrais que são mas por suas funções estruturais da psique doentia do protagonista no filme. O filme por fim debate a ressocialização e qual o melhor mecanismo para a mesma poder ser feita e levanta vários questionamentos como; se possível …onde haja uma combinação entre castigo, reordenamento psíquico e emocional sem a perca ou melhor, com a participação em algum grau da livre escolha!? A lavagem cerebral pode ser um meio legítimo de inibição de crimes?! Ou ainda… há casos sem esperança? Incorrigíveis? Se sim… porque? O que então deve se fazer socialmente com os tais?! Nada como se vê simples mas terrivelmente complexo e desafiador!
Alex DeLarge costuma ser listado como um dos 5 maiores vilões da história do cinema e a interpretação de Malcolm Mcdowell uma das maiores já vistas! Nem o infame Calígula que fez celebremente alguns anos depois é páreo para ela!
O romance de Burgess acabou por ganhar notoriedade depois do lançamento do filme de Kubrick apesar de ser quase 10 anos anterior (e vejam a visão deste cara sobre para onde o mundo ia já em 1962 …impressionante! )… mas hoje é um clássico apesar de muita gente ainda dizer que o livro perde do filme!
Interessante que a visão de futuro para ele, Kubrick , um pouco mais distante - de 1968 em plena era espacial para 2001 o emblemático e escatológico terceiro milênio cristão - otimista e evolutiva (ainda que um tanto quanto “mecânica” e “robótica” na primeira hora e meia onde a inteligência artificial é mais “humana” e interessante que os próprios humanos) passa primeiro por um momento onde a humanidade antes de se tornar tão robótica e mecanizada e depois “iluminada” passa por uma seria crise moral e sensorial quase destruidora onde bom e ruim, bem e mal, pessoal e impessoal, individual e coletivo, liberdade e sociedade passam por uma terrível crise que aconteceria a partir de algum momento depois de 1971! Claro… temporalmente isto não se deu mas pelo menos a segunda parte… a narrativa com elementos dissociativos e distópicos esta a acontecer aqui e agora, 50 anos após 1971 (e vindo num crescendo a pelo menos uns 15 anos e já acontecia de forma gradual desde a segunda grande guerra) e 20 depois da data do hipotético futuro mais luminoso retratado por ele! A pergunta que não quer calar é: a primeira parte… aquela que da distopia leva a mecanização e robotização (5G e cia diz alguma coisa?) e depois à evolução em uma crise onde através do nascimento da “Criança Estrela” ou o plural desta, cenas finais de 2001, o futuro mais luminoso, finalmente virá?!
Boa pergunta…
Para mim dos filmes de Kubrick Laranja Mecânica forma o podium deste como maiores obras em terceiro lugar vindo atrás respectivamente de 2001 Uma Odisseia no Espaço e De Olhos Bem Fechados e praticamente em empate técnico com Doutor Fantástico e a seguir O Iluminado! Kubrick era um cineasta que além de mestre e genial era completo; pois fez obras primas em todos os gêneros então conhecidos do cinema: drama romântico, épico, suspense, comédia, sci fi, drama de guerra, terror, drama psicológico… grande em todo o sentido possível do termo… com G maiúsculo!
Laranja Mecânica
Direção e roteiro: Stanley Kubrick
Baseado na obra de Anthony Burgess
Trilha Sonora: Beethoven, Singin’ in the Rain de Cantando da Chuva e Wendy Carlos
Elenco:
Alex - Malcolm Mcdowell
Frank Alexander - Patrick Magee
Chefe de polícia - Michael Bates
Dim - Warren Clarke
Tramp - Paul Farrell
Joe the Lodger - Clive Francis
Stage Actor - John Clive
Mary Alexander - Adriene Curri
Ministro do interior - Anthony Sharp
Detetive C. Tom - Stephen Berkoff
Catlady - Mirian Karlin
Mãe - Sheila Raynor
Pai - Phillip Stone
Pax et Lux
Valter Luis (Taliesin)
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