‘A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus e Pai, é esta: guardar-se incontaminado do mundo.’ — Tg. 1:27
Um grande acervo de arte rupestre na América Latina é La Cueva de Las Manos, na Argentina. Nesta caverna encontram-se centenas de gravações de mãos além de ricas gravuras multicoloridas. Já no Brasil, temos a Serra da Capivara, no Piauí. Lá os primeiros habitantes das Américas trataram de deixar seus vestígios na rocha.
É uma verdadeira galeria de arte rupestre que se confunde com a beleza natural das cavernas locais. Observando a pintura, podemos notar cenas que ilustram a vida pré-histórica, caçadas, ritos religiosos, sexo, enfim...
O registro rupestre é uma das facetas com que o arqueólogo se depara no decorrer de suas atividades, sendo aquela que implica em maior subjetividade nas diferentes tentativas de análise e interpretação deste fenômeno. O que o debate sobre arte rupestre parece deixar claro é a nova visão que se tem sobre estas manifestações, não mais como um fenômeno específico e isolado dos demais componentes do registro arqueológico, mas sim como um integrante, importante, desse mesmo registro. Além disso parece começar a surgir um consenso de que estas manifestações estão imbuídas de uma intenção, e esta intenção é de comunicação. Então a arte rupestre é uma manifestação comunicativa.
Mas atualmente, embora mantida pela tradição, a própria expressão "arte rupestre" vem sendo questionada, na medida em que muitos pesquisadores acham que as manifestações rupestres estariam fora da esfera artística, e mesmo se pertencer a esta esfera estaria fora de qualquer análise científica.
Este posicionamento denota uma certa confusão quanto ao caráter de comunicabilidade que este fenômeno possui, já que há uma tendência de se ver a arte rupestre, enquanto comunicação, como uma forma de linguagem, passível de ser analisada e compreendida pelo parâmetro da lingüística, o que leva à um grande desvio quanto à natureza desse registro do passado, ainda apegado à postulações de Leroi-Gourhan (1983/85).
Aceitando-se estas expressões como gráfico-icônicas, de cunho comunicativo, não se pode deixar de notar, que as mesmas não estão ordenadas, organizadas ou mesmo pensadas, como uma linguagem estruturada, e até uma pré-linguagem. Estas expressões não estão inscritas no mesmo universo das línguas, mas são compostas por arranjos completamente diferentes daqueles que encontra-se nas diversas formas lingüísticas em qualquer tempo. (...)
Então a arte rupestre seria uma criação artística, não relacionada com o conceito, ou conceitos, que se tem da arte ocidental.
Estas formas estéticas teriam como caráter fundamental exprimir alguma forma de comunicação, sendo que o repertório, definido por Coelho Netto (1989:123), e de acordo com a teoria exposta por Bense (1975), dos grupos que produziriam esta arte seria mais limitado do que aquele que as culturas mais modernas possuiriam, já que para haver este potencial de comunicabilidade, a forma de expressão desse indivíduo, em particular, teria que ser estendida pelos demais membros de seu grupo, admitindo-se que a produção e o entendimento dos signos que compõe os painéis, pode, por vezes, apresentar algumas modificações, derivadas ora da interpretação de seu executor, ora da própria dinâmica cultural do grupo a que pertence. (...)
Por fim, observa-se que a natureza do fenômeno arte rupestre, é em si mesma, a natureza de uma expressão artística, independente do conhecimento, ou não, do significado ou intenção, deste ato criativo. Caso seja necessário uma maior especificidade na conceituação do caráter de arte deste tipo de manifestação, pode-se entendê-la a partir do conceito de arte étnica, definido por Ribeiro (1986), no qual estabelece um diferenciação entre o que seria e esfera estética e a esfera funcional da cultura material, e como estes elementos estéticos estariam arranjados e compreendidos dentro de suas comunidades.
Então a arte rupestre seria uma expressão estética de grupos pré-históricos, os quais produziram e manipularam um conjunto de signos, formando um repertório, que seria entendido pelo restante do grupo. Isto não quer fazer crer no esquecimento da esfera individual na criação artística, mas esta mesma criação estaria contida dentro do repertório de signos disponíveis para tal veículo de expressão, fato, aliás, que ocorre em vários outros contextos artísticos.
Este conjunto de colocações vai fornecer uma compreensão do conceito de arte a ser aplicado às manifestações rupestres, com as noções de modelo reduzido e repertório fundindo-se. E passando a entender a arte rupestre como um modelo reduzido, com um repertório específico e comum à cultura produtora, afirmando assim o caráter comunicante deste sistema simbólico, que atenderia os parâmetros estéticos e simbólicos de determinada cultura. Então, a arte rupestre seria aquele conjunto de expressões estético-simbólicas, inseridas em determinada cultura, que a reconhecia.
A Arqueologia juntamente com a Antropologia busca informações a respeito das comunidades humanas que produziram belos objetos e representações gráficas. Sabe-se que a arqueologia se ocupa do estudo das antigas sociedades e conta somente com os seus vestígios para poder entendê-las. Por isso devemos conservar todo o nosso patrimônio arqueológico.
Outros estudiosos alertam para o equívoco de considerar a arte rupestre como restrita à pré-história. Se exemplos mais antigos remontam aos tempos glaciais, é possível localizá-la nas eras neolítica e paleolítica e até mesmo em épocas recentes, indicam eles. Na Califórnia e no sul da África, por exemplo, a arte rupestre continua a ser produzida no século XIX.
Pinturas e gravuras rupestres apresentam-se em diferentes épocas e lugares. A dispersão geográfica, aliada às dificuldades de conservação desses grafismos, é um dos problemas colocados em seu estudo.
Avaliações numéricas aproximadas calculam de 350 mil a 400 mil sítios arqueológicos com arte rupestre em todo o mundo. A África é o continente mais expressivo, com algo em torno de 100 mil sítios, pertencentes a épocas mais recentes, como os localizados na região do Saara e na região sul (Tanzânia, Angola, Namíbia e Zimbábue).
A Austrália é outro território rico em arte rupestre (região de Laura, Pilbara e terra de Arnhem - Parque Nacional de Kakadu). A Ásia, por sua vez, é o menos conhecido, fala-se em 10 mil sítios na China, além dos existentes na Ásia Central, Oriente Próximo e Índia. As Américas - do Canadá à Patagônia - apresentam diversos sítios arqueológicos importantes. No Brasil, os sítios de São Raimundo Nonato, no Piauí, são os mais antigos (ver Fundação Museu do Homem Americano - Fumdham). Os exemplares europeus são mais recentes - a localização de Altamira, na Espanha, data do século XIX - e sobre eles os pesquisadores se detêm por mais tempo. Isso faz com que se considerasse, durante algum tempo, ser a arte rupestre européia a mais antiga. A despeito dos de Chavet, na França (região de Ardèche) e de La Viña (Astúrias, Espanha), parecem se localizar na Austrália (Carpenter's Gap, Kimberley) os exemplos mais remotos de arte rupestre (entre 30 mil e 40 mil anos). De qualquer maneira, as controvérsias em torno da datação permanecem apesar dos novos métodos de aferição com radiocarbono.
Ainda que os estudos mencionem ser a arte rupestre mais freqüentemente realizada ao ar livre, a arte das cavernas do paleolítico europeu é a que conhece maior popularidade (como a gruta de Lascaux, na França). A escolha dos espaços - grutas, fissuras de rochas, proximidade de lagos e outros -, longe de casual, está repleta de sentidos. Há uma tendência a interpretar as pinturas realizadas com auxílio de tochas na escuridão das cavernas, por exemplo, como feitas por xamãs em estado de transe. Divergências à parte, o fato é que o meio natural e suas relações com o mundo sobrenatural são elementos fundamentais para a análise dessas manifestações gráficas, cercadas de significados rituais, religiosos e cerimoniais.
As técnicas empregadas constituem outro aspecto explorado pelas análises. A pintura parece ter sido a realização mais antiga, mesmo que as gravuras - quando a forma é obtida pela retirada de matéria ou por incisões - sejam mais numerosas (vale lembrar que as pinturas ao ar livre praticamente desapareceram). Os traços podem ser feitos com os dedos ou com a ajuda de utensílios; as cores, obtidas do carvão (preta), do óxido de ferro (vermelha e amarela) e, às vezes, com cera de abelha. Substâncias líquidas - água, clara de ovo, sangue etc. - são empregadas nas pinturas. Às diferentes técnicas e cores (muitas vezes superpostas) são atribuídos sentidos variados. No sul da Califórnia, por exemplo, o vermelho é considerado apropriado às cerimônias femininas.
Do ponto de vista do repertório, a arte rupestre compreende temas considerados universais. As linhas e os traços circulares, em geral gravados sobre a pedra, são fartamente utilizados: no Havaí estão associados à fertilidade, sendo considerados freqüentemente femininos; na Califórnia, apresentam-se ligados a formas de controle do tempo. Mãos e pés, juntos ou isolados, assim como pegadas de animais são outra recorrência. Alguns são vistos como ligados à mitologia, outros interpretados como "assinaturas". Sobre os signos abstratos - linhas, ziguezagues, grafismos e formas geométricas - recaem as maiores dúvidas interpretativas (afinal, de que falam eles?).
Formas humanas e animais, por sua vez, abundam na arte rupestre.
Também se fazem presentes figuras fantásticas, objetos e cenas, domésticas ou de trabalho. A falta de registros sobre boa parte das sociedades que produziram arte rupestre, a ambigüidade dos símbolos e as dificuldades em separar o universo profano do religioso colocam problemas para os intérpretes que mesmo assim, arriscam classificações. Fala-se em arte que "afirma uma presença" (indicando uma forma de dizer "estive" ou "estivemos aqui") por meio da representação de mãos, pés e figuras; e em outra que tem o sentido de "testemunho", na medida em que representa visualmente narrativas, eventos, cenas e mitos. Certos grafismos parecem representar mais diretamente o xamanismo; outros indicam formas de intervenção no mundo.
Do ponto de vista de seus realizadores, classifica-se a arte rupestre mundial como a dos povos "caçadores-coletores arcaicos" (as cenas são raras; os animais e signos, freqüentes); a dos "caçadores evoluídos" (cenas numerosas); a dos "criadores de rebanhos" (com animais domésticos e cenas da vida cotidiana) e das "sociedades complexas" (mais variadas, com representações mitológicas e signos de todos os tipos). Em termos de estilo, fala-se no levantino (entre 6.000 e 4.000 a.C.) - quando a figura humana ganha importância e sua representação vem acompanhada de grande movimento, em cenas de dança, luta e caça - e na arte esquemática (localizada no fim da Idade do Bronze, entre 4.000 e 1.000 a.C.), quando ocorre maior simplificação e esquematização do desenho. As representações figuradas - homens e animais - convivem aí com uma profusão de inscrições abstratas.
A busca do ser humano pelo sagrado transcende a própria criação da civilização como a conhecemos.
Naquilo em que estudiosos viam na arte rupestre registros do cotidiano dos humanos podemos também ver a busca pela compreensão de SI mesmo e do mundo que girava ao seu redor e ALÉM dele.
Aliás; se avançarmos mais um pouco e adentrarmos o estudo das estrelas veremos isto...
A arte na pré-história e as primeiras formas de comunicação
Uma das primeiras formas que o ser humano encontrou para deixar seus vestígios foi a pintura. A arte rupestre consistiu na maneira utilizada para se ilustrar sonhos e cenas do cotidiano. Símbolos da vida, da morte, de céu e da terra foram encontrados nas paredes cálidas das cavernas.A aguda sensibilidade do homem (sentimento de suma importância para o desenvolvimento da arquitetura e escultura), levou-o a pintar. Muitos dizem que os antigos pintavam por fome, teorias mais recentes asseguram que o faziam por uma "predeterminação sexual". É sabido que a tela primordial em que nossos parentes longínquos plasmaram suas idéias pictórica foi a rocha pura. As cores deviam ser aplicadas com aglutinantes para assegurar a aderência. Das cavernas francocantrábicas (Altamira, Lascaux - imagem a esquerda) às levantinas (Cogul) resulta uma evidente transição técnico-estilística: do realismo estático ao dinâmico, primeiro, e depois à uma acentuada estilização. A temática é comum: animais e cenas de caça e dança, as primeiras; homens e cenas várias, as segundas.
Um grande acervo de arte rupestre na América Latina é La Cueva de Las Manos, na Argentina. Nesta caverna encontram-se centenas de gravações de mãos além de ricas gravuras multicoloridas. Já no Brasil, temos a Serra da Capivara, no Piauí. Lá os primeiros habitantes das Américas trataram de deixar seus vestígios na rocha.
É uma verdadeira galeria de arte rupestre que se confunde com a beleza natural das cavernas locais. Observando a pintura, podemos notar cenas que ilustram a vida pré-histórica, caçadas, ritos religiosos, sexo, enfim...
A natureza do registro rupestre
Considerações extraídas do trabalho de pesquisa (A questão da teoria semiótica da interpretação da arte rupestre) executado por Carlos Xavier de Azevedo Netto, pesquisador do Instituto Superior de Cultura Brasileira (ISCB) e professor da UNESA.O registro rupestre é uma das facetas com que o arqueólogo se depara no decorrer de suas atividades, sendo aquela que implica em maior subjetividade nas diferentes tentativas de análise e interpretação deste fenômeno. O que o debate sobre arte rupestre parece deixar claro é a nova visão que se tem sobre estas manifestações, não mais como um fenômeno específico e isolado dos demais componentes do registro arqueológico, mas sim como um integrante, importante, desse mesmo registro. Além disso parece começar a surgir um consenso de que estas manifestações estão imbuídas de uma intenção, e esta intenção é de comunicação. Então a arte rupestre é uma manifestação comunicativa.
Mas atualmente, embora mantida pela tradição, a própria expressão "arte rupestre" vem sendo questionada, na medida em que muitos pesquisadores acham que as manifestações rupestres estariam fora da esfera artística, e mesmo se pertencer a esta esfera estaria fora de qualquer análise científica.
Este posicionamento denota uma certa confusão quanto ao caráter de comunicabilidade que este fenômeno possui, já que há uma tendência de se ver a arte rupestre, enquanto comunicação, como uma forma de linguagem, passível de ser analisada e compreendida pelo parâmetro da lingüística, o que leva à um grande desvio quanto à natureza desse registro do passado, ainda apegado à postulações de Leroi-Gourhan (1983/85).
Aceitando-se estas expressões como gráfico-icônicas, de cunho comunicativo, não se pode deixar de notar, que as mesmas não estão ordenadas, organizadas ou mesmo pensadas, como uma linguagem estruturada, e até uma pré-linguagem. Estas expressões não estão inscritas no mesmo universo das línguas, mas são compostas por arranjos completamente diferentes daqueles que encontra-se nas diversas formas lingüísticas em qualquer tempo. (...)
Então a arte rupestre seria uma criação artística, não relacionada com o conceito, ou conceitos, que se tem da arte ocidental.
Estas formas estéticas teriam como caráter fundamental exprimir alguma forma de comunicação, sendo que o repertório, definido por Coelho Netto (1989:123), e de acordo com a teoria exposta por Bense (1975), dos grupos que produziriam esta arte seria mais limitado do que aquele que as culturas mais modernas possuiriam, já que para haver este potencial de comunicabilidade, a forma de expressão desse indivíduo, em particular, teria que ser estendida pelos demais membros de seu grupo, admitindo-se que a produção e o entendimento dos signos que compõe os painéis, pode, por vezes, apresentar algumas modificações, derivadas ora da interpretação de seu executor, ora da própria dinâmica cultural do grupo a que pertence. (...)
Por fim, observa-se que a natureza do fenômeno arte rupestre, é em si mesma, a natureza de uma expressão artística, independente do conhecimento, ou não, do significado ou intenção, deste ato criativo. Caso seja necessário uma maior especificidade na conceituação do caráter de arte deste tipo de manifestação, pode-se entendê-la a partir do conceito de arte étnica, definido por Ribeiro (1986), no qual estabelece um diferenciação entre o que seria e esfera estética e a esfera funcional da cultura material, e como estes elementos estéticos estariam arranjados e compreendidos dentro de suas comunidades.
Então a arte rupestre seria uma expressão estética de grupos pré-históricos, os quais produziram e manipularam um conjunto de signos, formando um repertório, que seria entendido pelo restante do grupo. Isto não quer fazer crer no esquecimento da esfera individual na criação artística, mas esta mesma criação estaria contida dentro do repertório de signos disponíveis para tal veículo de expressão, fato, aliás, que ocorre em vários outros contextos artísticos.
Este conjunto de colocações vai fornecer uma compreensão do conceito de arte a ser aplicado às manifestações rupestres, com as noções de modelo reduzido e repertório fundindo-se. E passando a entender a arte rupestre como um modelo reduzido, com um repertório específico e comum à cultura produtora, afirmando assim o caráter comunicante deste sistema simbólico, que atenderia os parâmetros estéticos e simbólicos de determinada cultura. Então, a arte rupestre seria aquele conjunto de expressões estético-simbólicas, inseridas em determinada cultura, que a reconhecia.
Levas migratórias e a busca arqueológica
Mas como será que estes "artistas" chegaram às Américas e ao Brasil? Veja no quadro ao lado (esquerda), um esquema das levas migratórias que adentraram ao continente.A Arqueologia juntamente com a Antropologia busca informações a respeito das comunidades humanas que produziram belos objetos e representações gráficas. Sabe-se que a arqueologia se ocupa do estudo das antigas sociedades e conta somente com os seus vestígios para poder entendê-las. Por isso devemos conservar todo o nosso patrimônio arqueológico.
Fonte: www.arqueologyc.hpg.ig.com.br
Pintura Rupestre
Do francês rupestre, o termo designa gravação, traçado e pintura sobre suporte rochoso, qualquer que seja a técnica empregada. Considerada a expressão artística mais antiga da humanidade, a arte rupestre é realizada em cavernas, grutas ou ao ar livre. Estão excluídas as manifestações artísticas contemporâneas como o graffiti e a arte ambiental. Alguns especialistas criticam o uso do termo "arte" para fazer referência às inscrições sobre pedra que remontam, em geral, aos povos de épocas pré-históricas, na medida em que pinturas e gravuras descobertas pelas pesquisas arqueológicas nem sempre teriam, hoje, um sentido estético evidente. Apesar disso, convenciona-se chamar de "arte" essas expressões plásticas que fornecem acessos valiosos para o estudo de várias fases da história da humanidade.Outros estudiosos alertam para o equívoco de considerar a arte rupestre como restrita à pré-história. Se exemplos mais antigos remontam aos tempos glaciais, é possível localizá-la nas eras neolítica e paleolítica e até mesmo em épocas recentes, indicam eles. Na Califórnia e no sul da África, por exemplo, a arte rupestre continua a ser produzida no século XIX.
Pinturas e gravuras rupestres apresentam-se em diferentes épocas e lugares. A dispersão geográfica, aliada às dificuldades de conservação desses grafismos, é um dos problemas colocados em seu estudo.
Avaliações numéricas aproximadas calculam de 350 mil a 400 mil sítios arqueológicos com arte rupestre em todo o mundo. A África é o continente mais expressivo, com algo em torno de 100 mil sítios, pertencentes a épocas mais recentes, como os localizados na região do Saara e na região sul (Tanzânia, Angola, Namíbia e Zimbábue).
A Austrália é outro território rico em arte rupestre (região de Laura, Pilbara e terra de Arnhem - Parque Nacional de Kakadu). A Ásia, por sua vez, é o menos conhecido, fala-se em 10 mil sítios na China, além dos existentes na Ásia Central, Oriente Próximo e Índia. As Américas - do Canadá à Patagônia - apresentam diversos sítios arqueológicos importantes. No Brasil, os sítios de São Raimundo Nonato, no Piauí, são os mais antigos (ver Fundação Museu do Homem Americano - Fumdham). Os exemplares europeus são mais recentes - a localização de Altamira, na Espanha, data do século XIX - e sobre eles os pesquisadores se detêm por mais tempo. Isso faz com que se considerasse, durante algum tempo, ser a arte rupestre européia a mais antiga. A despeito dos de Chavet, na França (região de Ardèche) e de La Viña (Astúrias, Espanha), parecem se localizar na Austrália (Carpenter's Gap, Kimberley) os exemplos mais remotos de arte rupestre (entre 30 mil e 40 mil anos). De qualquer maneira, as controvérsias em torno da datação permanecem apesar dos novos métodos de aferição com radiocarbono.
Ainda que os estudos mencionem ser a arte rupestre mais freqüentemente realizada ao ar livre, a arte das cavernas do paleolítico europeu é a que conhece maior popularidade (como a gruta de Lascaux, na França). A escolha dos espaços - grutas, fissuras de rochas, proximidade de lagos e outros -, longe de casual, está repleta de sentidos. Há uma tendência a interpretar as pinturas realizadas com auxílio de tochas na escuridão das cavernas, por exemplo, como feitas por xamãs em estado de transe. Divergências à parte, o fato é que o meio natural e suas relações com o mundo sobrenatural são elementos fundamentais para a análise dessas manifestações gráficas, cercadas de significados rituais, religiosos e cerimoniais.
As técnicas empregadas constituem outro aspecto explorado pelas análises. A pintura parece ter sido a realização mais antiga, mesmo que as gravuras - quando a forma é obtida pela retirada de matéria ou por incisões - sejam mais numerosas (vale lembrar que as pinturas ao ar livre praticamente desapareceram). Os traços podem ser feitos com os dedos ou com a ajuda de utensílios; as cores, obtidas do carvão (preta), do óxido de ferro (vermelha e amarela) e, às vezes, com cera de abelha. Substâncias líquidas - água, clara de ovo, sangue etc. - são empregadas nas pinturas. Às diferentes técnicas e cores (muitas vezes superpostas) são atribuídos sentidos variados. No sul da Califórnia, por exemplo, o vermelho é considerado apropriado às cerimônias femininas.
Do ponto de vista do repertório, a arte rupestre compreende temas considerados universais. As linhas e os traços circulares, em geral gravados sobre a pedra, são fartamente utilizados: no Havaí estão associados à fertilidade, sendo considerados freqüentemente femininos; na Califórnia, apresentam-se ligados a formas de controle do tempo. Mãos e pés, juntos ou isolados, assim como pegadas de animais são outra recorrência. Alguns são vistos como ligados à mitologia, outros interpretados como "assinaturas". Sobre os signos abstratos - linhas, ziguezagues, grafismos e formas geométricas - recaem as maiores dúvidas interpretativas (afinal, de que falam eles?).
Formas humanas e animais, por sua vez, abundam na arte rupestre.
Também se fazem presentes figuras fantásticas, objetos e cenas, domésticas ou de trabalho. A falta de registros sobre boa parte das sociedades que produziram arte rupestre, a ambigüidade dos símbolos e as dificuldades em separar o universo profano do religioso colocam problemas para os intérpretes que mesmo assim, arriscam classificações. Fala-se em arte que "afirma uma presença" (indicando uma forma de dizer "estive" ou "estivemos aqui") por meio da representação de mãos, pés e figuras; e em outra que tem o sentido de "testemunho", na medida em que representa visualmente narrativas, eventos, cenas e mitos. Certos grafismos parecem representar mais diretamente o xamanismo; outros indicam formas de intervenção no mundo.
Do ponto de vista de seus realizadores, classifica-se a arte rupestre mundial como a dos povos "caçadores-coletores arcaicos" (as cenas são raras; os animais e signos, freqüentes); a dos "caçadores evoluídos" (cenas numerosas); a dos "criadores de rebanhos" (com animais domésticos e cenas da vida cotidiana) e das "sociedades complexas" (mais variadas, com representações mitológicas e signos de todos os tipos). Em termos de estilo, fala-se no levantino (entre 6.000 e 4.000 a.C.) - quando a figura humana ganha importância e sua representação vem acompanhada de grande movimento, em cenas de dança, luta e caça - e na arte esquemática (localizada no fim da Idade do Bronze, entre 4.000 e 1.000 a.C.), quando ocorre maior simplificação e esquematização do desenho. As representações figuradas - homens e animais - convivem aí com uma profusão de inscrições abstratas.
(Fonte: www.itaucultural.org.br)
(Texto retirado do Portal São Franciscohttp://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/arte-na-antiguidade/pintura-rupestre-1.php)
A busca do ser humano pelo sagrado transcende a própria criação da civilização como a conhecemos.
Naquilo em que estudiosos viam na arte rupestre registros do cotidiano dos humanos podemos também ver a busca pela compreensão de SI mesmo e do mundo que girava ao seu redor e ALÉM dele.
Aliás; se avançarmos mais um pouco e adentrarmos o estudo das estrelas veremos isto...
A ASTRONOMIA NA ANTIGUIDADE | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
A ASTRONOMIA NO MÉDIO ORIENTE Desde a Antiguidade até ao século XVII, a Astronomia teve dois objectivos relacionados um com o outro. Por um lado, mostrar que os movimentos dos planetas não eram aleatórios mas sim regulares e previsíveis e, por outro, ser capaz de prever esses mesmos movimentos com grande acuidade. O primeiro dos dois objectivos foi definido pelos Gregos, tendo o esforço quanto ao rigor das primeiras medições sido primeiramente desenvolvido pela distinta civilização da Babilónia. Quando Alexandre, o Grande, invadiu a Pérsia no século IV A.C., as duas formas de estudar o céu fundiram-se. A cidade da Babilónia, situada na margem esquerda do rio Eufrates, 70 km a Sul da moderna cidade de Bagdad, foi, durante um período chamado Babilónia Antiga (provavelmente 1830-1531 A.C.), reinado pela dinastia Hamumurabi. A Babilónia foi então tomada pelos Hititas mas rapidamente caíu nas mãos dos Cassitas, após o que se seguiu um longo período de dominação Assíria. Este período terminou com a destruição de Niniveh e a destruição da Grande Biblioteca em 612 A.C.. Após um período de independência, Babilónia caíu nas mãos dos Persas, até que em 331 A.C. foi tomada por Alexandre, o Grande, pelo que a partir desse momento as duas culturas ficaram directamente em contacto. As tabelas em pedra que chegaram até nós desde esta época são mais importantes para a história da Matemática que para a história da Astronomia. No entanto, apresentam uma técnica fundamental para o desenvolvimento posterior da Astronomia: o emprego de uma notação numérica eficiente. Para escrever o número 1, o escriba babilónico pressionava o escopro verticalmente sobre a pedra ( ); para marcar o 10 pressionava inclinado (). Combinações destas duas marcas eram usadas até 59. No entanto, para 60 era de novo usado o símbolo 1. Embora só tardiamente tivesse aparecido um símbolo para o zero, a notação babilónica permitia fazer calculos sérios e elaborados com alguma facilidade. A nossa divisão da hora em 60 minutos compostos por 60 segundos, e a divisão similar dos ângulos, reflecte esta notação babilónica. Os primeiros observadores celestes da Babilónia são muitas vezes encarados como astrólogos no sentido grego do termo, isto é, como estudiosos das consequências directas e inevitáveis para os indivíduos, como consequência da configuração dos corpos celestes. No entanto, esta visão não está correcta. Os babilónicos estavam extremamente alertas relativamente a quaisquer fenómenos ou ocorrências da Natureza em qualquer área do saber, tentando prevê-las de forma a evitar eventuais desastres provocados pelas mesmas. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Os babilónicos verificaram que o Sol na sua viagem aparente em relação ao céu de fundo não mantinha uma velocidade constante. Durante metade do ano a velocidade do Sol aumenta de forma constante até atingir um máximo e na outra metade do ano diminui até atingir um mínimo. Como não possuiam as ferramentas matemáticas que lhes permitissem analisar completamente o movimento, assumiram que durante metade do ano a velocidade aumentava de forma constante e durante a outra metade diminuía de forma constante, como representado na Figura 2. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Figura 2 - Uma representação em termos modernos dos dados apresentados numa lâmina datada de 133/132 A.C.. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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O facto da transmissão do conhecimento ser empírico, e não actualizado, faz com que as pirâmides do Egipto, além de possuirem desfasamentos ligeiros relativamente ao Norte verdadeiro, tenham desfasamentos diferentes de pirâmide para pirâmide à medida que o eixo da Terra foi precedendo. As primeiras observações da Grécia Antiga são melhor conhecidas pelo conjunto de lendas e mitos que até nós chegaram do que pela existência de documentos escritos. De facto, os gregos observaram a maior parte dos movimentos aparentes do céu e documentaram-nos de forma por vezes não muito científica. Porém, sem sombra de dúvidas, rigorosa quanto às observações por eles efectuadas. Quando dizemos que a forma como as observações eram documentadas não era muito rigorosa, não podemos esquecer que nos encontrávamos na fase do mito, em que as entidades divinas eram a explicação do inexplicável à luz dos conhecimentos vigentes. Assim, todas as observações que não possuíam explicação de acordo com os seus conhecimentos, davam origem a "novelas", em que os protagonistas eram os deuses, sendo o conjunto dessas "novelas" uma explicação da aparentemente inexplicável Natureza, constituíndo aquilo que se chamou mais tarde de mitologia grega. Vejamos um exemplo da forma como foi documentada uma constatação observacional. Já na Mesopotâmia, no Egipto e na Grécia Antiga era sabido que a esfera celeste rodava em torno do Pólo Norte Celeste, havendo algumas estrelas que, à sua latitude, nunca desapareciam, como é o caso das estrelas que constituem as constelações da Ursa Maior e Ursa Menor. Diz-se que essas estrelas são circumpolares, por se encontrarem suficientemente próximas do Pólo Celeste para que tal ocorra. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Podemos constatar que os gregos tinham noção de que as "Ursas" eram circumpolares a partir de uma das novelas mitológicas por eles criadas acerca destas constelações. A Ursa Maior tem um grande número de variantes mitológicas, havendo um mínimo de quatro, apenas na mitologia greco-romana. Dizia-se que Zeus (o Deus dos Deuses) era um grande namoradeiro, e que se apaixonava por humanas com grande facilidade. Devido à sua habilidade em tomar o aspecto que entendesse, rapidamente as encantava e cativava. Assim, aconteceu que Zeus foi pai de Hércules, entre outras "escapadelas". A Deusa Hera, esposa de Zeus, que era infelicíssima com estas traições constantes, conseguiu que Zeus lhe prometesse que não voltava a enganar. Mas, passado algum tempo, Zeus conheceu uma humana lindíssima chamada Calisto, filha do Rei Licaone de Arcádia, tendo-se perdido de amores por ela. Da sua paixão resultou uma filha. Ao descobrir esta nova infidelidade, Hera ficou perfeitamente possessa e, dado que não podia castigar Zeus, transformou as duas humanas, mãe e filha, em ursas. Passado algum tempo, Zeus descobriu o que Hera tinha feito. Infeliz pelo que havia provocado e dado não poderem os deuses anular os castigos de outros deuses, colocou as duas ursas transformadas em estrelas no céu, num local que passasse no zénite ao longo do ano. Quando Hera se deu conta desta ocorrência, ficou furiosa e aplicou um novo castigo nas duas ursas, dizendo: "Ficam no céu, mas hão-de ficar sujas para toda a eternidade, pois jamais tomarão banho", e colocou-as no local onde hoje se encontram. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Embora, quer Platão, quer Aristóteles, concordassem com a existência de um cosmos ordenado, Platão acreditava, contrariamente a Aristóteles, que as respostas que explicariam essa ordem apenas poderiam vir de um raciocínio matemático. Até Aristóteles, os filósofos haviam encontrado dois pares contrastantes na natureza: frio versus calor e seco versus húmido. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Havia para Aristóteles uma diferença fundamental entre as regiões terrestres e celestes, entre a imprecisão e variabilidade encontrada na região terrestre e a perfeição geométrica encontrada nos corpos celestes, contituídos por pontos ou círculos de luz. Nos céus não havia qualquer vida ou morte, aparecimento e desaparecimento. Pelo contrário, os corpos celestes mantinham o seu movimento de translação eternamente, num perfeito movimento circular uniforme (o problema dos cometas foi rapidamente resolvido, pois estes corpos, como iam e vinham, tinham, por isso, natureza terrestre). Mas se a estabilidade do seu modelo da Terra não estava em dúvida, o status dos céus como um Cosmos onde prevalecia a ordem esteve em questão até que se conseguiram criar leis de movimento que conseguissem explicar os astros "errantes". Com sete pequenas excepções, os corpos celestes moviam-se de uma forma perfeitamente racional, rodando com uma regularidade extrema em torno da Terra com posições fixas, uns em relação aos outros. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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ERATÓSTENES DE CIRENE - PRIMEIRA DETERMINAÇÃO DAS DIMENSÕES DA TERRA | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Figura 16 - Se a Terra fosse plana, o ângulo de incidência dos raios solares seria igual em toda a superfície da Terra. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Ptolomeu referiria mais tarde que Eratóstenes mediu o desvio do plano da eclíptica relativamente ao equador celeste com grande precisão, obtendo o valor 11/83 de 180º, o que significa 23º 51’ 15", o que é bastante próximo dos actualmente aceites 23º 27’ 30". Compilou ainda um catálogo de 675 estrelas. Eratóstenes viria a cegar nos últimos dias da sua vida, tendo-se suicidado à fome, em consequência disso, em 194 A.C.. PTOLOMEU | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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Assumia-se que o ponto P se movia uniformemente no círculo de referência ou deferente. No entanto, as velocidades obtidas ainda não reflectiam bem as velocidades dos planetas e muito menos as retrogradações. O ponto P era apenas um ponto imaginário no deferente em torno do qual se definia o epiciclo. O epiciclo era uma circunferência centrada no ponto P e sobre a qual o planeta descrevia a sua trajectória num movimento circular uniforme. Para tornar o movimento do planeta idêntico à observação era apenas necessário adaptar os tamanhos do deferente e dos epiciclos até se obter a curva ajustada às observações. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
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