quinta-feira, 10 de maio de 2012

O MISTÉRIO DA EXISTÊNCIA...segundo Olof e Blake

COM AS VELAS RECOLHIDAS


NAVEGANDO PELO MAR DO NORTE ABERTO,


ATÉ O LUGAR DISTANTE QUE SUA ALMA DESEJA.


ANTES VOCÊ TERÁ QUE CAIR COMO OS OUTROS.


AINDA QUE SE GUIE PELAS ESTRELAS...


POIS QUANDO CHEGAR A HORA AS ESTRELAS TAMBÉM VÃO CAIR.


Mestre Olof (August Strindberg)
 citado no filme escandinavo(norueguês)... 
Caro senhor Horten de Bent Hamer...






TODAS AS NOITES E TODAS AS MANHÃS
 ALGUNS NASCEM PARA O SOFRIMENTO,


TODAS AS MANHÃS E TODAS AS NOITES
ALGUNS NASCEM PARA TER ALEGRIA.


ALGUNS NASCEM PARA TER ALEGRIA
E ALGUNS NASCEM PARA TER MELANCOLIA.


William Blake 
citado no filme americano 
Dead Man de Jim Jarmusch 
estrelado por Johnny Depp






Desde que nos entendemos por gente tentamos entender a 
mecânica da vida e do universo.


Nossa mente inquiridora, nosso coração sequioso não
descansam de buscar um sentido para estarmos vivos e 
mais que isto; por que a vida tem que ser o que é...
Este contexto dual de luz e de trevas que no mesmo instante
encanta e desencanta, alegra e entristece,encoraja e amedronta.


Cada dia de nossas vidas são dias de busca...


Cada momento que aqui passamos não é ocioso mesmo quando
aparentemente nos quedamos no lazer e no descanso.


O ser humano navega em águas profundas e misteriosas quando
se trata de nossa existência e de nossa sobrevivência.


É o que entendemos quando analisamos o poema primeiro
postadas por mim, o de mestre Olof...


Disse que o mesmo foi citado em um filme escandinavo
chamado Caro senhor Horten.


É um excelente filme que conta a história de um maquinista, Odd Horten(Bad Owen)de meia idade que justamente em sua última viagem antesda aposentadoria atrasa e perde seu próprio trem.
A partir dai entra em  parafuso e começa uma jornada 
interessante com outros personagens em especial um velho
senhor misterioso que o ajudará no duro processo de se
reinventar para uma nova vida.


Vejamos então...



COM AS VELAS RECOLHIDAS


NAVEGANDO PELO MAR DO NORTE ABERTO,


ATÉ O LUGAR DISTANTE QUE SUA ALMA DESEJA.


Este poema é citado pelo senhor misterioso em questão que
entra na vida de Horten em um momento culminante do filme
e que definirá a partir de então os rumos da vida do protagonista.


Percebam que as velas do barco estão recolhidas assim como Hortem que esta se aposentando mas, percebe-se, ainda deseja navegar MUITO mais.


Assim ainda há movimento...


A frase seguinte nos diz claramente...NAVEGANDO...


Pelo imenso mar do norte aberto nas geladas noites e dias 
das regiões polares o navio ruma a seu destino.


Um destino definido pelos anseios da alma do condutor.


Portanto um destino escolhido pelo seu livre arbítrio.


E isto é com certeza uma analogia brilhante com o personagem,
com Horten.


Horten aposentado, recolhido, todavia navega nas gélidas
regiões do norte, um símbolo soberbo da odisseia humana
navegando pelo gélido mar sideral, pelo oceano gelado do
cosmo. 


Horten quer continuar vivo, produtivo, ele tem um desejo,
um objetivo ainda não alcançado e que se traduz brilhantemente
no poema citado a ele pelo velho misterioso.


E nós?


Qual nosso objetivo?


Qual o rumo que nossa alma deseja?


Onde esta nossa felicidade?


A frase também deixa implícita mais as alegrias da jornada
que devem ser assimiladas e vivenciadas do que propriamente
a consecução do objetivo que parece sempre ali no horizonte,
como uma promessa de conclusão dignificante.


A jornada em si com todas as coisas boas e ruins que ela contém parece ser o mais interessante para Olof que o chegar ao destino almejado, por mais que este seja o destino de nossa alma.




ANTES VOCÊ TERÁ QUE CAIR COMO OS OUTROS.


AINDA QUE SE GUIE PELAS ESTRELAS...


POIS QUANDO CHEGAR A HORA AS ESTRELAS TAMBÉM VÃO CAIR.



A queda é um elemento vital na mítica humana por simbolizar
a completa imersão do homem, da mulher no contexto evolutivo.


De certa forma, olhando por outro angulo somos nós os Anjos caídos de nossas mais caras mitologias.


Para Hortem que até ali tinha sido um cidadão modelo,
um funcionário exemplar, um filho perfeito restava cair
para se tornar um humano perfeitamente concorde com os
demais.


Precisava submergir no drama humano, humanizar-se, deixar de
ser o robótico, o padronizado...deveria quebrar-se para achar-se
de novo....


Espatifar o ovo no chão para que dele nascesse um novo homem.


E aquele atraso daquele dia desencadeia uma série de 
acontecimentos que o levam justamente a isto.


Entretanto...


Tudo no universo passa...


Até as estrelas, por mais augustas e poderosas que sejam...


CAEM...


Cair parece ser um processo universal não meramente moral...


Cair aqui tem o sentido de evolução, de mudança...


Como evoluir ao cair?


Pareço ouvir quem lê perguntando...


A queda propicia às estrelas se tornarem os buracos negros 
infinitamente mais poderosos e misteriosos que qualquer estrela.


A queda propicia aos homens descobrirem suas falhas, sua 
finitude e todos os caminhos e descaminhos do viver para no 
processo poderem se tornar, num círculo espiral cada vez mais ascendente...melhores, rumo a algo que entendem por céu em algumas tradições ou nirvana em outras, um tipo de unificação com o todo acima de conceitos.


Todavia a recusa em querer evoluir, em querer ir adiante,
pode gerar um padrão de círculo espiral contrário, 
descendente, que para alguns estudiosos pode desembocar no que conhecemos como inferno e alguns na pura e simples extinção do Ser para a assimilação aos elementos primários originais da vida.


Neste sentido Adão e Eva caírem no mito não foi uma fatalidade
mas uma utilidade...


Sem a queda, sem o descobrir-se conhecedor do bem e do mal
como poderíamos entender a mecânica de todo o manifestar
do amor divino para com a vida se nunca tivéssemos tido a
experiência de nos afastarmos Dele? Deste amor?


Hortem assim dolorosamente se descobre na queda e o texto
de mestre Olof acena-nos com a possibilidade de cada leitor,
de cada ser humano fazer o mesmo!




Vejamos agora o texto de William Blake o mais transgressor
e 'herético' dos poetas e pintores...




TODAS AS NOITES E TODAS AS MANHÃS
ALGUNS NASCEM PARA O SOFRIMENTO,


TODAS AS MANHÃS E TODAS AS NOITES
ALGUNS NASCEM PARA TER ALEGRIA.


ALGUNS NASCEM PARA TER ALEGRIA
E ALGUNS NASCEM PARA TER MELANCOLIA.




Enquanto Olof parece encarar a queda como algo não só
necessário mas vital para o ser humano crescer, se achar
e alcançar seu objetivo Blake parece acenar-nos com uma
visão determinista e negativista da vida.


Logo ele Blake, o poeta transgressor e libertário por excelência!


Blake parece nos dizer que as cartas já estão marcadas!


Que uns nascem para sofrer e outros para serem felizes...


SIM!


Se olharmos na periferia do que ele escreveu esta é a ideia...


Mas conhecendo as ideias de Blake sabemos que por trás do
que nos é aparente tem muito mais embutido.


No excelente filme de Jarmusch o personagem Bill de Johnny Depp se torna um homem marcado de morte(o Dead Man do título) por um poderoso barão do velho oeste( o lendário ator Robert Mitchum num de seus últimos trabalhos)após matar-lhe o 
filho(Gabriel Byrne) em legítima defesa e roubar-lhe um cavalo
para fugir. Caçadores de recompensa são colocados no encalço
de Bill e este ferido seriamente com uma bala desferida pelo
filho do barão  do oeste antes de morrer, alojada perigosamente perto do coração é ajudado por um índio  solitário e renegado por ser mestiço de duas tribos.


É este personagem que a certa altura do filme cita esta frase
de Blake para Bill para exemplificar sua triste sorte.


Blake na verdade faz uma crítica feroz a forma como nós 
conduzimos nossas vidas...


Ele não crê em determinismo, aliás; como sabemos, ele detesta
a visão de uma deidade determinista e fatalista e entende por
este angulo o Deus bíblico.


Blake é profundamente... um gnóstico tardio...


Em suma; para ele a vida é o que é porque um demiurgo de segundo escalão rege a condução da vida material.


E seria este império e as leis deste demiurgo o responsável
por todas as mazelas deste mundo.


Blake acredita que a unica forma de libertar-se seria confrontar
este demiurgo e não fugir dele , nem muito menos reverenciá-lo
e segui-lo.


A figura de Jó é a mais emblemática nos escritos de Blake exatamente por exemplificar a contento a forma de agir deste
demiurgo com os humanos que ele considera absurda, ditatorial.


Além de magistral poeta Blake era um senhor pintor e sua mais
famosa obra neste campo apresenta o Deus bíblico como o demiurgo criador do universo material.




Fonte Google imagens


Assim para Blake o determinismo existia sim mas imposto por uma MENTIRA UNIVERSAL e não pela VERDADE ESSENCIAL.


O demiurgo enquanto criador era também o algoz e o tirano
de sua criação e permitiria um verniz de livre arbítrio entre
os humanos para que estes se iludissem que eles e não
de fato Ele é que  puxava o cordão dos marionetes.


Sinceramente não sei se concordo com toda a visão de Blake
mas não deixa de ser interessante...


Assim como Bill do filme de Jarmusch estava fadado e destinado
a ser um dead man assim cada humano estaria fadado a 
desempenhar um personagem imposto no palco da vida.


A única esperança de libertação para Blake era CONFRONTAR
o demiurgo dentro de si e além de si, dizer-lhe um sonoro NÃO,
tornar-se um rebelde universal e propagar a rebelião mundo
afora.


Lúcifer lhe era assim um personagem emblemático desta figura
trágica, de um rebelde com uma causa fadado a ir contra seu
criador por entendê-lo tirânico e não bondoso realmente.
Sua transformação em Satan como na pintura de Blake abaixo
era para este mais resultado de propaganda enganosa do criador
que o estado de cisão dentro do anjo rebelde.


Reparem que na imagem de Blake o Satan contempla Lúcifer de cima como se saísse deste em uma epifania. Lúcifer olha embevecido a si mesmo ou sua outra parte que por mais trevas que seja ou tenha contudo não parece amedrontá-lo nem 
intimidá-lo. Por isso mesmo a imagem poderia ser vista de uma outra forma, com outra leitura....Satan com braços abertos acima olha o rosto de Lúcifer abaixo e tenta se amalgamar com este também de braços abertos e olhando para seu rosto, como em um espelho estilo o retrato de Dorian Gray como que sinalizando Blake,  a alquimia sagrada entre luz e trevas é essencial para libertar-se. 





E para ele a melhor forma de fazer-se isto era vivendo uma vida
de liberdade plena e total...


Blake parece ser daquele ramo gnóstico que pregava que a libertação esta em ROMPER limites auto impostos e não naquele que pregava um ascetismo puritano para escapar-se do reino
demiúrgico.




Desta forma,nestas duas visões de dois grandes visionários podemos ver o quanto o mistério da existência esta longe de um consenso, de uma unanimidade entre os pensadores.


Para Olof o mundo é o que é e devemos tirar o melhor proveito
dele rumo ao nosso objetivo, inclusive de sua dualidade luz/trevas.


Para Blake o mundo é o que é porque o fizeram assim quer se tenha uma visão de reencarnação ou de ressurreição da vida mas podemos romper esta escravidão dos sentidos e nos alçarmos
acima desta padronização determinista ao escolhermos ir contra
este sistema todo com consciência e não dominados pelos sentidos somente.


Seja como for, o mistério de sermos o que somos parece muito longe de ter um fim pelos meios investigativos humanos.


Por mais brilhante que seja o dito e a mente por trás dele o que
percebemos é que a IGNORÂNCIA é nossa  maior vilã e que
o CONHECIMENTO por mais concreto ou subjetivo que este 
seja ainda é o melhor caminho para vivenciarmos nossa jornada.


Um conhecimento adquirido na dura caminhada nossa nas estradas que construímos vida afora!


Um conhecimento de dentro para fora e de fora para dentro
em eterna simbiose cósmica!






OM TAT SAT




Outras imagens magistrais da obra de Blake










Fonte Google imagens


Vídeo do trailer do filme Caro senhor Horten...






Vídeo do trailler do filme Dead man...






Um vídeo belíssimo para nós...Pinturas de William Blake...




Fonte Youtube




Abraços


Pax e Lux


VALTER TALIESIN





Fonte Google imagens

































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