Continuando em nossa análise sobre este que é um dos maiores mitos de todos os tempos da História humana nos deparamos com um item aparentemente descritivo apenas da geografia local, mas devido à luta dos literalistas em localizar tal região através dos rios que são citados e pelo fato de dois destes rios hoje serem absolutamente impossíveis de serem identificados por, ou não existirem mais, ou terem mudado de nome, com o correr dos anos a geografia da região do Éden mudou conforme a interpretação literal que os expositores dão para o mesmo.
Vejamos o texto bíblico sobre os tais...ou melhor sobre o tal, pois era UM RIO que depois se dividia em 4 braços para regar toda a região.
E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado.
E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços.
O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro.
E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica.
E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe.
E o nome do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da Assíria; e o quarto rio é o Eufrates.
E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.
Gênesis 2:8-15
Percebam que o jardim é DO Éden não é à toa...
Éden é o nome da região não do jardim.
O jardim foi plantado NO Éden do lado oriental deste.
Portanto o Éden parece ser uma região extremamente vasta geograficamente falando e não somente circunscrita ao lado oriental ou seja, somente à região mesopotâmica tão comumente associada ao jardim e a este nome.
Os estudiosos mais conservadores entendem que esta região era somente a região mesopotâmica onde depois surgiu a impressionante cultura e civilização suméria mas outros mais digamos, audaciosos, vão mais longe e interpretam que esta região ia da África até à Índia pois ao citar Pison o texto fala de muito ouro e pedras preciosas algo muito associado ao subcontinente hindu, portanto Pison poderia ser um dos grandes e famosos rios da região como o Ganges, o Indo ou talvez mais precisamente o antigo e extinto Sarasvati, tão importante para as lendas e mitos hindus e culturas da região como a de Mohenjo Daro, a 'Suméria' deles, e hoje só visível o leito seco, ou melhor, o caminho e percurso que fazia antes de secar. E Gion, que é dito que circundava a terra de Cuxe, os cuxitas eram associados principalmente aos egípcios e aos cananeus e assim Gion pode ser nada mais nada menos que o mítico Nilo...ou quem sabe o Jordão.
Pison?
Rio Indo
Rio Ganges
Extinto Rio Sarasvati
Giom?
Rio Nilo
Rio Jordão
Rio Tigre
Rio Eufrates
Ou seja; seja Ganges, Indo, Sarasvati, Jordão ou Nilo os outros dois rios que fariam parte do complexo eram tão míticos quanto os conhecidos Tigre e Eufrates.
O problema é somente identificar O RIO ORIGINAL que seria nascente dos 4.
Alguns identificam o mesmo como tendo origem no atual golfo pérsico antes que este se torna-se um mar interior, portanto seria hoje um rio extinto.
Vejam que o rio nascia e sai do Éden ou seja da região e corria para o lado oriental onde estava o jardim e A PARTIR deste se dividia em 4 braços. Bom, se a nascente ficava no Golfo pérsico penso que tanto o Jordão quando o Nilo estão fora de rota a não ser que o percurso destes rios fossem completamente diferentes antes do grande dilúvio, se separando no lado oriental do golfo pérsico e de lá indo em direção aos seus leitos atuais. Ou então a nascente deste rio mítico ficava no NORTE do jardim, descendo portanto até o lado oriental e este sim ficaria no atual golfo pérsico ou seja; a região do jardim hoje seria um mar.
Até aqui lidamos com o mito como se o mesmo fosse algo provável como literalidade. Isto não é anormal, muitos fazem isto, aliás, a grande maioria dos estudiosos procuram no mito um resquício de verdade na região, mas como estamos fazendo diversos tipos de leitura, a visão sobre os rios também pode seguir outros caminhos interpretativos.
O Éden pode ser um símbolo de um outro mundo, ou até do interior do ser humano!
Um outro mundo caso simbolize uma outra dimensão do ser, o interior caso simbolize o mistério interior do ser humano.
Como uma outra dimensão do ser, Éden pode geograficamente, estar na região comum conhecida, mas invisível aos olhos humanos.
Porque?
Porque simplesmente o ser humano pode ter surgido em outras dimensões do ser e indo se sutilizando ao longo do tempo, quer a dita queda seja algo digamos, inevitável e simbolize a densificação na matéria, ou se foi um acidente ou uma prova iniciática perdida, uma mudança imediata e única de um estado de ser mais sutil para um mais denso onde com o correr do tempo a dimensão do Éden foi ficando cada vez mais distante da nossa até desaparecer de vez como Ávalon e suas brumas famosas.
Neste sentido podemos estar diante das brumas de Éden!
Como falamos em outros textos desta série sobre o mito do Éden, as tais 'peles' que o Senhor Deus colocou sobre os corpos dos humanos talvez seja algo muito diferente das peles de animais imaginadas pelos estudiosos literalistas, assim como as folhas de figueira cozidas como veste antes pelo próprio homem e a mulher também.
Podemos estar diante de mudanças de estados de consciências e de densidade de ser e corpos!
Ao comer do fruto os humanos tornam-se conscientes que estão nus, portanto a primeira conscientização humana é de ESTADO DE SER, diante disto cozem vestes de folhas de figueira. A figueira em muitas tradições espirituais é simbolo de iluminação e conjuntamente a oliveira, ao trigo e a uva o fruto mais importante da Bíblia a ponto de muitos imaginarem serem ela e não a famosa maça o tal fruto proibido da árvore do bem e do mal.
Desta forma, se assim for, o homem vestir-se com folhas de figueira pode ir muito além de vestes para cobrir o corpo desnudo, podemos estar diante de uma alegoria, de uma figura de linguagem para descrever a busca do humano para compensar o senso de unidade divina perdida quando comeu o dito fruto. O senso de estar nu é aqui portanto o senso da perca de unidade com o divino em si, APESAR da promessa da serpente dos mesmos serem como Deus quando comessem o dito. Um sentimento de vergonha pelo que percebe em si mesmo, o conhecimento do bem e do mal obtidos daquela forma trouxe o conhecimento da diferença entre um e outro e algo pior, o sentido de estar-se sob o jugo de um deles; O MAL.
Por este prisma as folhas da figueira, talvez as folhas da própria árvore do conhecimento sejam uma busca humana, alheia a uma diretiva do eu maior para iluminar-se, para voltar ao estado original do ser, que sentia perdido, agora submerso numa vergonha de perceber-se dominado pelas inclinações e não senhor e senhora das mesmas.
Depois, ao esconder-se entre as árvores ao ouvir a voz do Senhor Deus podemos ver um humano que não sente mais unidade com o divino em si e portanto foge dele. O divino não mais o atrai, não mais o bendiz, ele se sente com medo, acuado pela luz divina.
Assim quando o divino prepara-lhe peles em substituição as folhas da figueira podemos ver que a história nos sinaliza nesta interpretação para a necessidade do humano penetrar profundamente na densidade material e aprender através das duras provas( as tais 'maldições' impostas sobre o homem) o caminho de retorno ao sagrado. Não seria meros artifícios que resolveria isto mas uma sangria, uma operação profunda de encarne na matéria.
Nesta análise os humanos podem ter tido pelos menos 3 mudanças de estado físico e consciencial neste processo chamado queda; uma através do comer do fruto, outra através do cozer e cobrir-se com folhas de figueira e por fim quando o Senhor os cobre de peles e os expulsa do paraíso ou seja; da dimensão mais sutil para algo mais denso.
Analisando o Rio e seus quatro braços podemos ver que no Éden mítico os percursos de tais rios poderiam ser completamente diferentes do que são no nosso mundo. No mundo do Éden os 4 rios míticos, dois hoje conhecidos e dois motivos de debates nascem de um Rio original, que deságua no oriente do Éden onde esta o jardim e dali cria 4 braços que se espalham por toda a região.
E internamente como poderíamos analisar tal mito?
Dentro do humano podemos ver o Éden ou a fonte do Rio por duas perspectivas...
Se analisarmos a partir da Kundalini, a fonte estaria no chakra básico e o jardim seria o coronário onde Kundalini ou Shakti se uniria a Shiva e a partir de então sairiam 4 braços ou raios de energia...
4 é um número que simboliza o universal, o quadrado, um símbolo de toda a criação como as 4 faces dos querubins de Ezequiel e os 4 animais viventes, símbolos de toda a criação no Apocalipse.
A cruz como elemento de manifestação simboliza dentro do quadrado a manifestação da vida divina nos quatro cantos cardeais...norte...sul...leste...oeste...e os 4 elementos...fogo...terra...água...ar, sendo o centro o ponto central da manifestação de onde tudo procede e o quinto elemento...o éter...um símbolo do espírito.
Uma outra perspectiva é que a fonte esteja ao contrário, no coronário onde esta Shiva e a partir dali descendente vai até o básico onde esta Shakti e dali se divide em 4 braços simbolizando toda a criação nascida a partir do centro reprodutivo dos humanos.
Mas tem como unificar as duas visões!!!
Na tradição a Kundalini sobe do básico até o coronário, une-se a Shiva, em então ambos descem até o básico fazendo o mesmo circuito, portanto a fonte do grande rio pode ser entendida como dupla. Tanto nascendo no despertar da Kundalini ou Shakti no básico quanto nascendo da união desta com Shiva no coronário.
Ou seja; a Kundalini ou Shakti ao desejar e ao mesmo tempo ouvir o chamado do amado parte em direção a este e este a si.
De qualquer ângulo que olhamos podemos ver criação e podemos ver que o processo criativo e universal no ser humano envolvem tanto a região da mente quanto a reprodutiva ou seja; o sexo tem estreita ligação entre a imaginação e o gozo físico, o êxtase tanto se manifesta na mente quanto no órgão sexual.
Mas detalhe: passa por TODOS os chakras e tem sua verdadeira câmara nupcial no cardíaco ou seja; todo o ser humano, todos os corpos da pessoa participam do encontro entre Shiva e Shakti no ser.
Esta aqui a importância do sexo na vida humana, sua sacralidade e também o perigo de sua profanação e banalização e mais; a importância de entendermos que nele e dele participam tanto os lados escuros quanto claros de nossa personalidade, sendo uma relação ideal aquela que mantém equilíbrio entre os dois lados em nós e a que beneficia tanto a energia masculina quanto a feminina na distribuição das dádivas interiores para todo o nosso ser.
O Rio Nascente e os 4 braços portanto nos falam da unidade divina em nós que se multiplica em toda a criação beneficiando tudo e todos os seres vivos. Eis aqui um outro mistério explicado... o sentido do 'domínio' do humano sobre a terra e sobre todos os seres vivos criados! É o domínio da criatividade e da interatividade consciente e benigna, não a exploração do meio ambiente que vemos hoje, esta degradação absurda que presenciamos.
O ser humano(e não falamos aqui do humano terrestre somente) mas como analisamos Adão e Eva da perspectiva de outras dimensões podemos ver aqui O ADAM KADMON cabalístico, um ser que é a IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS e do qual todos os seres cientes do universo ou melhor, de todas as dimensões tem origem e ser, não importando suas formas físicas mas sim o sagrado masculino e feminino em si, o poder criativo e diretivo sobre os processos de manifestação da energia da vida etc...
Assim desta perspectiva poderíamos falar de outras humanidades, diversas da terrestre, mas unificadas com esta na essência máxima de Adam Kadmon como o indivíduo hermafrodita original de onde tudo proveio, antes os elementais, seres da noite etc como vimos nas relações entre Lilith e Adão nos sonhos deste após a cisão interna entre os dois e depois os humanos, quando houve a separação dos sexos em Adão e Eva.
Dai o mito passa a envolver e fixar-se na humanidade terrestre tão somente porque para nosso proveito tais histórias foram escritas e descrevem depois nossa saga posterior aqui, já densificados, mas MESMO aqui, aprendemos que o homo sapiens NÃO É o único tipo de humano que caminhou pela terra, que outras humanidades aqui já viveram antes de nós.
No Rio, nos rios do Éden estão nossa própria história como seres criativos e representantes da divindade expansiva em todas as dimensões do ser.
Neles podemos ver o grande plano divino seguindo seu curso insondável, misterioso e majestoso!
Paz e Bem
Valter Taliesin
VÍDEOS SAGRADOS
Sinfonia 49 de Haydin
Serenata de Schubert
Sinfonia 3 de Brahms
Glória de Vivaldi
Abertura de Guilherme Tell de Rossini
Glassworks de Glass
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