sábado, 16 de outubro de 2021

- ROUND 6 - A SÉRIE QUE CONQUISTOU O MUNDO COM SUAS METÁFORAS -

 - ROUND 6 - Netflix - Nota 10+ 🌟🌟🌟🌟🌟 - 


As coisas que Round 6 apresenta devem ser vistas e lidas em pelo menos 3 níveis diferentes.


- O literal e material - Onde pessoas endividadas jogam um jogo para um fim não muito bem definido onde o ganhador leva tudo e os perdedores perdem a vida… e a cada morte o montante contabiliza no computo final do futuro vencedor.


- O analógico e social- Onde todo aquele cenário é comparado ao sistema global no qual uma elite esdrúxula governa e se compraz com o sofrimento da massa… cenário em que para se ganhar algum se perde muitas vezes absolutamente tudo.


- O metafórico e espiritual - Onde aquilo representa e simboliza o mundo em todas as suas camadas e esferas em que as individualidades são testadas em uma verdadeira Matrix, por uma divindade demiúrgica toda poderosa que se compraz no jogo pura e simplesmente e isto se torna bem claro, esta metáfora, nas cenas finais da série.


Assim, o acachapante sucesso da série que tornar-se dia a dia o maior êxito não só da Netflix mas de toda “era streaming” tem seu trunfo nisto: nas diversas leituras que se adequam a diversos níveis de consciência do espectador. Duas pessoas podem estar a ver a série juntas mas em níveis de compreensão completamente diferentes e para AMBAS completamente satisfatório. As pessoas do nível 1 estão a curtir um excelente thriller  como diversão, a do nível 2 um excelente manifesto e protesto político-social em thriller e as de nível 3 uma excelente revelação sobre o estado espiritual deste mundo, da humanidade e das engrenagens que controlam aqui a vida humana,  e claro… na forma de thriller. 


Obviamente que a figura do protagonista é a que mais se destaca pois aqui uma quarta leitura ou nível de consciência pode muito bem ser percebida: a mitológica, onde se dá aquilo que o grande estudioso, professor, palestrante e escritor de mitologia Joseph Campbell definia como A Jornada do Herói e se o associarmos à figura do amigo de infância, irmão de alma que com ele participa de toda trama vemos nitidamente (se intencional ou não já que certos temas míticos são recorrentes em diversas partes do mundo) à descida dos gêmeos da mitologia maia ao submundo, ou Xibalba, onde são testados e tem que jogar os jogos dos deuses e estes são mortais. Aliás, os jogos entre os maias terminavam sempre na morte de alguém seja perdedor ou vencedor, dependendo da regra e intenção dos mesmos. 

  

Neste contexto mitológico simbolista as figuras geométricas do círculo, do quadrado e do triângulo dentre outras funcionam não só como elementos de identificação de personagens e situações mas como portais de percepção de tudo o que esta a se passar. Importante: o fato de estarem a ser usados no jogo não os definem como nefastos ou satânicos mas como universais que são e subjetivos por trás de qualquer objetivo, estes sim podendo ser bons ou ruins,  AQUI no jogo tem um significado próprio deste, não impedindo que, como universais que são em outras esferas signifiquem algo completamente diferente e benéfico.


Além do protagonista e do amigo (que atua ao mesmo tempo como parceiro e antagonista) a série tem um elenco de pelo menos seis ou sete personagens de apoio de grande destaque sendo que um deles dará suporte nas cenas finais àquilo que falei lá em cima sobre a metáfora e simbologia com uma divindade demiúrgica que não somente se compraz sadicamente no jogo de sangue que as pessoas devem jogar neste mundo mas que inclusive… quer, agora de forma masoquista participar. Masoquismo aliás presente como vamos percebendo em maior ou menor grau em cada um dos participantes e sadismo não ausente em boa parte deles. Há uma trama paralela que se desenvolve entre os algozes do jogo, onde há um intruso entre eles que apimenta e pode conduzir à trama para contornos não imaginados por estes algozes. Ele seria aquele algoritmo( visto da perspectiva de solução pelo programador) ou vírus(visto da perspectiva dos algozes) semeado no sistema que acena em meio a toda formatação ao imponderável, mas não só ele… cada participante… para bem ou mal, mesmo engessados no formato ou Matrix tem um potencial subversivo em si para levar o jogo ao imponderável. E pouco a pouco é o que começamos perceber, acontece. No fim sobra a certeza de que um cenário assim não é nenhum exagero para definir muita coisa aqui, neste mundinho que vivemos e certas conclusões que chegamos no final nos indica que os criadores acenam para, em meio a todas as limitações que percebemos neste mundo, as escolhas ainda podem ser um fator que quando feitas com a alma e coração e menos com o estômago e só a cabeça podem surpreender e desestabilizar o “status quo” de forma demolidora.


Pax et Lux 


Valter Luis (Taliesin)



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